Proximidade com estações do metrô vira fator decisivo na escolha de imóveis

Imobiliária lança modalidade de busca de imóveis segundo a distância
deles com estações do metrô; Vila Mariana (zona sul) e Tatuapé (zona
leste) estão entre as mais buscadas

Faz um tempo que a advogada Eugênia Ignatios, de 40 anos, não sabe o
que é encarar o caos do trânsito diário de São Paulo. Moradora da
região de Indianópolis, na zona sul, ela vendeu o carro que usava
para ir de casa ao trabalho e passou a fazer todos os trajetos de
metrô e bicicleta elétrica. Desde então, diz que recuperou 3h do seu
dia, antes perdidas atrás do volante. “Só faltava ter uma impressora
embaixo do banco. Eu cortava unhas, passava maquiagem, tudo presa no
engarrafamento.”

Além da localização estratégica do bairro, que dá acesso a vias
importantes como as Avenidas Ibirapuera e 23 de Maio, a previsão da
abertura da estação Eucaliptos, inaugurada no primeiro semestre de
2018 na linha 5-Lilás, foi um dos fatores que a levaram a adquirir um
imóvel na região. “Enquanto eu perdia horas no trânsito, poderia
estar na academia ou brincando com minha filha. Morar
estrategicamente mudou a qualidade de vida.”

A escolha da advogada por um ir e vir mais tranquilo, sobre trilhos
ou duas rodas, já se tornou tendência entre os moradores da capital
paulista. Elaine Fouto, gerente de marketing da Lello Imóveis, afirma
que hoje a proximidade do metrô é a primeira exigência de quem
procura um imóvel para alugar ou comprar – tanto que a imobiliária
disponibilizou em seu site uma nova ferramenta de busca criada a
partir do mapa metroviário.

“Nos últimos três meses de 2018, 50% dos negócios fechados estavam a
menos de mil metros de alguma estação. A mobilidade hoje é a segunda
maior preocupação de quem vive em São Paulo, depois da segurança.” De
mãos dadas com o aumento da procura vem a valorização: o aluguel de
imóveis nesse perfil aumentou entre 8% e 15%. Entre as estações mais
procuradas no buscador estão Vila Mariana, na linha azul, e Tatuapé,
na vermelha.

O bancário Eduardo Oliveira, de 52 anos, morou por 10 anos perto do
metrô Paraíso e agora está ao lado da estação Santa Cruz. É outro que
disse adeus ao carro. “Minha vida se transformou, tudo parece mais
perto.” Ele também vê vantagem financeira na escolha: “Meus gastos
diminuíram consideravelmente. Carro é bom, mas viver sem o estresse
do trânsito é muito melhor”, desabafa.

O estresse no trânsito (ou agora a eliminação dele) também é apontado
pelo prensista Ricardo Pimentel, de 46 anos. Após morar em Suzano por
30 anos, ele vendeu sua casa e veio com a família para perto da
estação Vila Prudente, na linha 2-Verde do metrô, no mês passado,
para um apartamento alugado. “O gasto em dinheiro é mais alto porque
pago aluguel, mas o que ganho com a agilidade do transporte compensa:
mais tempo com a família, menos correria e menos estresse.”

Para Alexandre Delijaicov, professor titular da Faculdade de
Arquitetura de Urbanismo da USP, o ideal é que as pessoas possam
viver nos arredores do local onde trabalham e ter acesso fácil – e a
pé – a serviços e lazer.

“Este é o meio de transporte mais seguro, não poluente e
confortável”, sublinha. Como contam-se nos dedos os bairros que
possuem tal infraestrutura, viver perto do metrô faz uma grande
diferença. “Finalmente está voltando a percepção da importância dos
trilhos urbanos no cotidiano das pessoas”, comemora o urbanista.

As incorporadoras estão de olho nessas tendências. Segundo Andrea
Bellinazzi, diretora de Inteligência de Mercado da Tegra
Incorporadora, é observada uma mudança de atitude “também nos casais
mais velhos, com filhos”. “Eles acabam vendendo um dos carros e
utilizando transporte público e táxi ou aplicativos como
alternativa”, ressalta.

Fonte: economia.estadao.com.br